domingo, novembro 26, 2006

um cigarro

Deixa-me tapar-te, disse. Obrigado, com um sorriso, com um até amanhã prometido. Amanhã, vamos arrumar esta confusão. Vamos. Prometes? Vou estar aqui amanhã. Prometes? Sorriso. Está tudo bem. Prometes? Prometo, agora dorme.
Não te iludas. Talvez eu nunca consiga visitar a tua campa. Talvez eu nunca mais consiga dormir. Tudo o que quero agora não existe e os meus sonhos nunca vão acordar. Nunca mais. Prometo.
Bom dia, meu amor. Estás aqui e o mundo não acabou. Eu não me lembro desta conversa. Tu não existes. Não consigo dormir. O luar entra pela janela e escalda-me a pele. Eu acredito tenuemente que estás aqui. De verdade. Amanhã vou voltar ao mundo e tratar de deixar-me afogar nas coisas.

Caminho descalça pela areia. O vento penteia-me os cabelos. Sinto a tua falta. Resolvo mergulhar directamente e sinto frio. Tudo à minha volta está suspenso como eu. E não sinto nada. Só frio. É bom estar aqui, mas vou ter de fazer alguma coisa. De voltar ao mundo. Assim. Do nada. Se eu soubesse, não te tinha deixado ir. Tinha-te prendido à cama naquela manhã. Mas eu não sabia. Não teve nada a ver comigo. Como se eu tivesse culpa de alguma forma, sabes? Tu não existes.
Estou ensopada e caminho pela areia enquanto o vento me gela o corpo e me garante que estou viva. Porque me dói. Como se não houvesse mais nada. O mundo não acabou.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu ando triste e tu ainda me pões mais triste! Raios! Farta disto tudo! Eu (sabes quem sou... aquela que transpira azul e vomita Freud)

Anónimo disse...

tenho-me sentido assim ultimamente...mas é mais ensopada por causa da chuva e da lama...mas o corpo gela mm!
Lourinha...