quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Elas acharam que era necessário...

Reparem no piercing da minha vaquita (ela aparentemente é uma inconformada):Aquelas flores são Margaridas e, sim, aquilo são velas com cheiro a CHOCOLATE!!

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Bolo... ahem... de aniversário.

A bem dizer, eu acho que isto começou a correr mal assim que eu decidi fazer o tal jantar com o devido bolo. O jantar, maravilha, ficou óptimo! O bolo... bem a mistura dos ingredientes em si, correu bem - não vamos lembrar o chocolate que ardeu no microondas, Mecas... a ideia era derretê-lo. Foi o forno que arruinou tudo, não eu (é confortável isto, ihihihihihihih)... Enfim, depois de retirar a parte queimada dum bolo de chocolate que não cresceu, restou esta coisa deprimida:
Que foi coberta de doce de morango e tapada por uma espécie de "bolo-panqueca":
Que, por sua vez, foi coberto por chocolate derretido em natas: Nem sombra do objectivo inicial, mas comestível e surpreendentemente divertido de fazer (e de comer, hã meninas? Bolo desmontável e tal...). ;P

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Uma pessoa recebe uma carta...

Fotografia: José Luís Mendes

... e fica uns bons dez minutos a olhar para o envelope feita estúpida. Sem o abrir. À espera.
Mas à espera de quê?

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Um livro a sério.

«Quando saiu para a praça, Felisa García avançou uns passos para procurar a sombra da figueira, e ali ficou a esfregar as mãos com o olhar perdido no mar. Não tinha a certeza se estava bem o que tinha acabado de fazer, mas tinha a impressão de que o mundo estava cada vez mais desordenado e que era preciso evitar isso. Se de alguma coisa Felisa García tinha a certeza era de que os países deviam manter-se onde estavam, com as suas fronteiras tão bem desenhadas nos mapas que até dava gosto vê-los, cada um com a sua cor diferente, e que os vizinhos deviam cumprimentar-se com respeito em vez de andar a matar-se uns aos outros, e que os filhos deviam arranjar uma mulher ou voltar para casa dos pais e não andarem a mendigar na capital. Tudo devia estar no seu lugar, porque era a única forma de cada um saber onde sentar o traseiro. Assim, simples.»

Zarraluki, P. Começar de novo

Fotografia: Rui Cid

domingo, fevereiro 18, 2007

Why have Ferrari shoes?


It's not like they are going to make you run any faster...

I went home to this:

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

domingo, fevereiro 04, 2007

Porque sim






«Quando eu cheguei à perigosa idade dos 40, quase todas as minhas amigas, mães, como eu, de adolescentes, ostentavam orgulhosamente barrigas de grávida. Eu olhava para elas e babava-me de inveja. E, naquela atitude meio infantil de "se elas têm, eu também quero", engravidei por três vezes. E, por razões que o médico nunca conseguiu perceber, por três vezes abortei, bem para lá dos dois meses de gestação.

Só eu sei o que isso me custou - tanto em termos físicos como psicológicos. Internamentos, raspagens, pouca paciência do pessoal hospitalar ("quê? era o terceiro filho? Para que é que quer tanto filho?"), foram experiências que me marcaram para sempre. Posso (ou se calhar nem posso…) imaginar o que passa uma mulher obrigada mesmo a abortar. Porque nenhuma mulher aborta simplesmente porque sim, nem de ânimo leve, nem - oh céus! - utiliza o aborto como habitual método contraceptivo. Se, juntando a tudo isso, ainda há uma lei que as manda para a cadeia - em que mundo-cão é que nós vivemos! E não me venham agora com aquele incompreensível argumento, para apaziguar almas sensíveis, de que ninguém quer isso. É exactamente isso que os partidários do "não" neste referendo querem. Deixemo-nos de hipocrisias o que está em discussão não é saber se se é pela vida ou contra (mas alguém será contra a vida?!); o que está em discussão é saber se se pode continuar a admitir que as mulheres com dinheiro abortem legalmente, nas melhores condições e sem problemas; e as outras continuem a arriscar a saúde, a vida e a liberdade. Sempre achei estranho que decisões como esta, do foro mais íntimo de cada mulher, acabem por ficar nas mãos dos homens e dos padres (com todo o respeito por ambas as classes.) Até porque, na altura em que teria sido bom que os homens aparecessem para partilhar dores e responsabilidades, eles desaparecem do filme...

Não me interessa a contabilidade não sei se são muitas ou poucas as mulheres efectivamente condenadas. Mas sei que há uma lei que pode levar a isso. E se as leis não são para cumprir, então para que servem? A lei tem de ser mudada - e depois cumprida. É por tudo isto que dia 11 voto sim.»

Alice Vieira, escritora
(publicado no JN a 4 de fevereiro de 2007)

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Aborto. Se não concorda, respeite.

Ora bem, eu não vou debitar os argumentos ilegíveis no panfleto, até porque não são meus. De resto, há uns tipos na baixa de Coimbra que passaram um bom bocado a tentar convercer-me de algo que eu já estava convencida.

Sim, pois, e tal, o aborto é ilegal (mentira, ele está regulado na lei). Sim, pois, e tal, a lei não é suficiente e promove indirectamente uma série de condutas clandestinas de maior ou menor risco, higiéne e dignidade (mmm... haverá mesmo alguém que faça um aborto e que se sinta bem - dignificada - com o que está a fazer?) e como é óbvio a existência de uma lei menos restritiva não implica, de modo algum, a obrigação de abortar nem o aumento do número de abortos (nem que seja apenas porque agora não temos meios seguros de os quantificar).

O objectivo duma maior flexibilidade legislativa seria, certamente, aborta quem quer, mas calma. Haveria que garantir que quem quer abortar de facto quer e não está a ser coagida por outrém a fazê-lo, além de que se encontra mentalmente capacitada para tomar essa decisão, ou seja, a mulher deve manifestar consciência das consequências hipotéticas tanto de ter como de não ter a criança e, se assim o entender, receber apoio terapêutico (por exemplo, há quem gostasse muito de ter filhos, mas não os possa sustentar). Até porque não é o procedimento médico em si (desde que devidamente assistido) que tem consequências: são os "e se..." e os "e se..." fazem mais danos do que os que qualquer procedimento físico poderia causar.

Por outro lado, já ouvi não sei onde que durante a gestação o corpo não pertence à mulher, mas torna-se um "ninho" para a futura criança. Gente, não ver o próprio corpo como sendo seu é um sintoma tão grave que a simples presença é suficiente para preencher o critério A do diagnóstico da Esquizofrenia.

O corpo de cada uma a cada uma pertence.

Agora o mais importante, prestem atenção:


O aborto é um direito da criança.

O aborto, tal como está regulamentado à data, viola de forma grave o direito da criança a ser amada e protegida, vestida e alimentada, tratada com dignidade. Uma criança não é uma peça de roupa que se compra porque é gira, uma criança dá trabalho, é uma responsabilidade, como tal, ou há o comprometimento de a ter e de a cuidar, a percepção e convicção de que a criança é uma pessoa que vale por si mesma e não um apêndice narcísico, ou tê-la é ser terrivelmente cruel para com ela. É expô-la ao mau-trato, ao abuso, à vida em lares de acolhimento, ao capricho dos adultos. Até as crianças que são adoptadas e cuidadas por familias competentes estão em risco, a lei não protege de forma suficientemente eficaz as familias de afecto.

As crianças não devem nunca pagar pela estupidez de adultos que não têm noção do que é o estabelecimento de uma relação de vinculação primária nem das condições necessárias para o fazerem - não falo só dos pais, mas, sobretudo, dos legisladores.

No nosso país, as leis são feitas por homens, homens que são engenheiros, filósofos, advogados, economistas e outras abstracções acabadas em -istas, homens que podem ter uma noção de ética clara (ahem...) e correcta relativamente ao valor da vida humana, mas que não compreendem propriamente que antes de exigirem que se preze uma vida que ainda não existe por si mesma, é necessário criar condições facilitadores para as mães e os pais possam exercer o seu papel de forma adequada e apoiar convenientemente a promoção da sua autonomia em todos os aspectos.


Antes de nos preocuparmos com a incubação das crianças, temos de nos preocupar com a incubação dos pais.


A restrição da prática do aborto, tal como se encontra hoje legislada, não permite a opção legal de abortar salvo em caso de violação, perigo para a saúde da mulher ou perigo para a saúde mental da mulher. Estas crianças cujo aborto já se permite seriam, de alguma forma, menos crianças do que as que seriam abortadas por outros motivos?
Certamente, mesmo com a hipotética possibilidade de escolha no início de qualquer gravidez, os nossos lares, orfanatos, ninhos e/ou refúgios continuariam, tal como agora, a estar repletos de crianças que anseiam por estabelecer uma relação primária com qualquer adulto que encontrem (nem falo dos abusos).

Se a política natalista do nosso governo passa por fechar Maternidades (e nós bem sabemos que as têm fechado... como se as que restam tivessem capacidade de lidar com todas as gravidezes!), porque é que não pode passar por uma nova regulamentação da prática do aborto por forma a permitir-la num leque mais abragente de situações?

A prevenção da gravidez não é apenas uma questão de evitar o sexo, nem de presença/ausência de contracepção durante o sexo, até porque nenhum método contraceptivo é 100% eficaz. Muito menos uma questão religiosa. Mais do que isso, o aborto é uma questão de direito a tomar uma decisão séria e de último recurso, que ninguém toma de ânimo leve e que implica a noção de que, de facto, o direito à vida é inviolável.


Mas o direito à vida não é, de forma alguma,
o mesmo que o direito a estar biologicamente vivo.
A vida é muito mais do que biologia.