terça-feira, fevereiro 20, 2007

Um livro a sério.

«Quando saiu para a praça, Felisa García avançou uns passos para procurar a sombra da figueira, e ali ficou a esfregar as mãos com o olhar perdido no mar. Não tinha a certeza se estava bem o que tinha acabado de fazer, mas tinha a impressão de que o mundo estava cada vez mais desordenado e que era preciso evitar isso. Se de alguma coisa Felisa García tinha a certeza era de que os países deviam manter-se onde estavam, com as suas fronteiras tão bem desenhadas nos mapas que até dava gosto vê-los, cada um com a sua cor diferente, e que os vizinhos deviam cumprimentar-se com respeito em vez de andar a matar-se uns aos outros, e que os filhos deviam arranjar uma mulher ou voltar para casa dos pais e não andarem a mendigar na capital. Tudo devia estar no seu lugar, porque era a única forma de cada um saber onde sentar o traseiro. Assim, simples.»

Zarraluki, P. Começar de novo

Fotografia: Rui Cid

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