Da dúvida.
Levantar às seis e trinta. Cerca de duzentos quilómetros por dia. Um telemóvel com menos de um ano e com mais de cento e cinquenta horas de conversação. Ter dentro da cabeça uma empresa com dois mil clientes, saber manter um contacto profissional que, a despeito de estarmos no melhor ou no pior dos nossos dias, tem de ser cordial, sóbrio e atenciososo. Gerir a relação de setenta empregados. Sair com os miolos feitos em água e dirigir-me para a universidade. Deu-me a pancada da tese. Entrar em casa às onze e meia da noite. Tentar gerir a casa e os afectos. Antes de ir para cama, escrevo este texto a pergunto-me se tudo isto vale a pena, se não estou a esquecer-me das coisas mais importantes da vida, se vale a pena escrever este texto, se faz sentido um caos deste tipo, para ficar sem tempo para grande parte das minhas devoções e das minhas paixões, se vale a pena esta dor de cabeça que tenho, se vale a pena ter estudado para ter como recompensa um telefone com doze chamadas por responder, se vale a pena. Suponho que a vossa vida seja parecida com isto, mas nunca vos perguntais se vale a pena. Tenho que ir dormir. E tenho que mudar de página.
2 comentários:
Queria dar-te um daqueles conselhos super-interessantes, super-inteligentes, super-úteis, mas para isso teria de ser muito melhor do que sou.
Lamento que te doa a cabeça, que penses demasiado e que te questiones se vale ou não a pena sair da engrenagem.
São mais felizes os que caem na cama, exaustos, sem tempo para sonhar, quanto mais para escrever textos como o que escreveste.
Gostei de te ler.
Obrigado pela visita.
"São mais felizes os que caem na cama, exaustos, sem tempo para sonhar (...)." - E como é que sabem se estão vivos?
Se gostaste deste texto em particular, sugiro que visites o blog do Carlos porque o texto foi escrito por ele (o link está no nome dele).
Enviar um comentário