Partilhando o alheio.
Apollo 17
Depois duma separação não se come à mesa. Nunca, a não ser que alguém tenha aceitado o nosso convite para jantar. Cozinha-se temperando o melhor que se sabe a comida, depois escolhe-se cuidadosamente um cd para ouvir, e senta-se sempre no sofá de lugar único. Nunca se senta no sofá de dois lugares. Aliás, no autocarro nunca se viaja num sozinho num banco duplo, numa sala de espera nunca se senta ao lado duma cadeira vazia, e na cama de casal dorme-se sempre na diagonal, ocupando a maior área possível do colchão. Falando em camas, o primeiro encontro sexual, casual ou não, não deve ser feito na própria cama mas noutro sítio qualquer, nem que seja no chão da sala da casa dum amigo.
Falando em amigos, os amigos são o mais importante. São eles que servem como saco de boxe quando é preciso. Em palavras, digo. Bater mesmo, é melhor não. E depois há o café. É o único momento em que se deve sentar a uma mesa com cadeiras vazias, porque beber café e ler o jornal ocupa muito espaço à nossa volta. Enquanto se folheiam notícias e se mergulha no bom sabor azedo da bebida, lança-se o olhar pelo espaço, como se fosse um satélite orbitando as mulheres que passam, se sentam, se levantam, sorriem e o que mais fizerem. Os satélites não falam nem tocam, orbitam só, discretamente, planetas onde um dia se gostaria de aterrar.
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