«Sente-se no perpassar da capa e batina uma viração igualitána, que varre bem para longe as diferenças de fortuna, fatal desigualdade que, fora da vida Universitária cai sobre as almas juvenis como neve sobre botões entreabertos, crestando-os e esterilizando-os. O fidalgo e o plebeu, o rico e o pobre, igualmente uniformizados entram na comunhão da vida académica, com o mesmo direito, com a mesma alegria, com o mesmo sentimento de posse com que no mundo vegetal e animal os seres entram na partilha do sol, do espaço e do solo. O fraque elegante do filho do rico e do potenteado, não obriga a retrair-se o casaco sovado do filho do pobre. A mocidade é uma para todos. O mesmo pano, o mesmo corte dá às almas a mesma franqueza de movimento, que só a inteligência torna mais fácil e mais nobre. Debaixo da capa e da batina, o espírito dos moços, a alma mais fácil e mais nobre, dos que se embebem de saber, naturalmente, como um fenómeno de endosmose da espiritualidade ambiente, pode cantar com Metastásio: O giuventá primavera della vita! A mocidade constitui-se uma unidade intelectual e moral inquebrantável e irredutível. O homo hominis lupus não vive a sua voracidade no encalço dos que trabalham. Não há ai o ciúme da alma, em outros meios literários mais intenso do que o da carne. A vida universitária cultivava essa vida em comum, essa promiscuidade benfazeja de sementeira, em que se dá a diferenciação pela espontaneidade da evolução de cada espécie, apesar da mesma nutrição pelo mesmo númus».
(in Memórias do Mata-Carochas, Vasconcelos, Henrique António Coelho de;
1.ª ed. 1907; 2.ª ed. ilustrada 1956, Porto)
PS. That tower clock in the back
is what we lovely call "a Cabra"
(literaly: "the Bitch")...
1 comentário:
e a raquel. :)
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