UM CIGARRO
Não sei. Não sei o que é que aconteceu, ou melhor, não sei porque é que aconteceu. O porquê será importante? Talvez não, mas... e o que é que isso interessa? Mais ou menos nada. Mais ou menos tudo.
Está um calor! Serei, porventura, mais estúpida? Mais estúpida que todas as outras pessoas do universo, menos perspicaz? O porquê não me parece nada relevante. O acontecimento deu-se – agora é irreversível. Tu morreste e pronto, foi isso: ficaste morto. E era fácil, fácil, fácil!! E correu mal, mal, mal... ninguém morreu? Não era bom que existisse um deus, um destino, uma merda qualquer que nos desculpasse isto tudo? Mas não há e isto tudo é a nossa, a tua perdição. O que resta? A morte, o vazio de vazio, o cheio de tudo e, por isso, de nada. Toda a gente morre. Contudo, apenas eu, a minha pessoa morre de nada, de ti.
Um cigarro, um charro, um isqueiro, um fósforo, uma faísca, uma coisa qualquer por onde arda, que me queime, que me oprima, sufoque, destrua, que me purifique, que me force a renovar o que quer que isto seja, o que quer que isto signifique – a vida! Matava por um cigarro, percebes? A falta de nicotina percorre-me o corpo todo, sinto-o. No sangue, nos órgãos, em todo o lado – a falta da morte, da cabra da morte é o que é!! Não consigo, não consigo estar quieta, a necessidade fala mais alto, mas não há nada que permita a sua satisfação e isso acalma-me e isso enerva-me. Matava por um cigarro, por um pouco de lume, matava por um ritual. Imagino um cigarro: mais ou menos cilíndrico, enrolado por mim, contente por ter domado a aspereza do papel, aceso, acabado de acender, fumegante de um fumo satisfeito; o cheiro, há outros? É perfeito, confere a harmonia ao momento, faz parte do culto e do mistério, mas é o fumo branco, leve, etéreo o mais importante: é o mais hipnótico, vê-lo esvair-se é a base de todo o ritual. Matava por um cigarro, percebes?
3 comentários:
trés bien. tens a modos que algum jeito para a coisa. mesmo moribunda.
merci. mesmo moribunda?
sim
Enviar um comentário